ALOPECIA X – QUAL A RESPONSABILIDADE DO CRIADOR?
Muitos Tutores de cães com Alopecia X me questionam sobre a responsabilidade dos Criadores, se a doença é genética, se o Criador deve devolver o dinheiro, ajudar no tratamento, etc... Eu entendo estas questões, já que eu mesmo as fiz quando há 20 anos um macho que eu havia importado desenvolveu a doença. Vamos analisar neste artigo as variáveis envolvidas nesta questão:
HEREDITARIEDADE
Atualmente já está bem estabelecido que a Alopecia X é hereditária. 47 genes - principalmente relacionados ao ciclo do pelo, metabolismo da melatonina e receptores de estrógeno (na pele) - já foram verificados como alterados (mutados) em Pomerânias com Alopecia X (quais destes são determinantes para a doença ainda é fruto de estudo). Tudo indica que a herança da doença é autossômica recessiva – ou seja, a doença pode ficar “escondida” por gerações. As probabilidades do surgimento da doença podem ser visualizadas no quadro.
O importante aqui é entendermos que os pais de um cão afetado podem ser portadores saudáveis (e muitas vezes também os avós e até bisavós e tataravós).
PREVALÊNCIA
Cães da raça Spitz Alemão são de longe os mais afetados pela doença. Em pesquisa da OFA (Orthopedic Foundation for Animals) em 1017 cães da raça cerca de 20% dos machos e 11,2% das fêmeas são relatados como afetados. Ou seja, há 1 chance em 5 de um filhote macho vir a desenvolver o problema (e 1 em 9 de uma filhote fêmea). Todo o plantel mundial, principalmente os descendentes de cães americanos/canadenses (ou seja, todos os do tipo “moderno”) apresenta animais afetados ou portadores. Não há criação atual de Spitz Alemão do tipo desejado que seja 100% livre da doença (e nem os de tipo “antigo”, já que, em sua maioria, foram já misturados com os do tipo “moderno”). Alguns criadores podem ter sorte mas, ao longo do tempo, inevitavelmente alguns exemplares afetados nascerão...
TESTES PARA DETECÇÃO DE PORTADORES
Infelizmente não há nenhum exame ou característica que nos permita atualmente determinar se um cão é portador do gene, se não apresentar a doença. Entretanto o nascimento de filhote afetado indica que ambos os pais são portadores.
RESPONSABILIDADE DOS CRIADORES
Atualmente todos nós temos acesso fácil à informação. Acredito que futuros Tutores devam pesquisar muito antes da compra para saber quais os principais problemas da raça escolhida, inclusive a predisposição a doenças. Dito isso, acho importante uma conversa franca com o criador antes da compra – estabelecer responsabilidades e deveres e analisar com cuidado o contrato de venda.
Alguns criadores se responsabilizam no contrato pela eventualidade de doenças genéticas, outros não. Alguns são específicos sobre a Alopecia X mas, na maioria dos casos, não há nada no contrato. Muitas vezes não há nem contrato. Pela alta prevalência compreendo a dificuldade dos criadores em se responsabilizarem por eventuais cães afetados mas também entendo a frustração dos Tutores qdo um cão tão desejado, inclusive por sua beleza, fica alopécico.
Outro fator importante é que muitos cães são erroneamente diagnosticados com Alopecia X sendo que, na verdade, tem outros problemas - o mais comum deles a Alopecia Pós-Tosa. Aqui a figura de um Médico Veterinário experiente é essencial para o correto diagnóstico.
No futuro, Criadores que se responsabilizarem por eventuais cães afetados, seja reembolsando o Tutor parcial ou totalmente, seja oferecendo outro filhote ou contribuindo para o tratamento, terão sem dúvida um diferencial importante sobre os criadores que não o fizerem, já que a Alopecia X é cada dia mais conhecida.
Nos casos em que nada foi combinado ou contratado, sugiro que os Tutores conversem com o Criador – lembrem-se que nenhum canil sério quer produzir exemplares afetados – tanto o Tutor quanto o Criador são vítimas desta doença. Eventualmente uma conversa franca e amistosa pode ajudar a chegar a uma solução.
E OS PAIS (portadores) DE EXEMPLARES AFETADOS DEVEM SER AFASTADOS DA REPRODUÇÃO?
Esta é uma questão muito complexa e que requer uma resposta cuidadosa - aqui não podemos responder emocionalmente!
Se temos realmente uma proporção tão grande de cães afetados nascendo isto significa que mais de 50% do plantel da raça é portador! Se retirarmos todos da criação simplesmente reduziremos o pool genético de forma dramática, o que pode gerar problemas ainda maiores... Isso já aconteceu no passado - por exemplo com a raça Basenji, com consequências desastrosas - vamos ao que ocorreu:
A raça Basenji apresentava, ainda nos anos 70, altos índices de problemas genéticos, notadamente anemia hemolítica. Um teste foi desenvolvido e os cães portadores foram eliminados do pool genético. Resolveu-se o problema da anemia hemolítica na raça!
MAS...
Com a seleção para anemia hemolítica diminuiu-se muito o pool genético da raça – o coeficiente de inbreeding da raça era maior que 30%!!! (lembrando que o COI em acasalamentos de irmãos inteiros é de 25%).
Duas doenças surgiram em Basenjis em todas as linhas ocidentais: Sindrome de Fanconi (doença renal fatal) e IPSID (doença de malabsorção também fatal) com cerca de 10% dos cães afetados...
Na minha opinião todo acasalamento que gerou exemplares afetados não deve ser repetido, mas se este padreador ou matriz tiverem excelente estrutura e tipo, não padecerem de outros problemas de saúde (como luxação patelar, colapso de traquéia, etc...), talvez possam sim serem usados judiciosamente e os filhotes acompanhados e responsabilizados pelo canil...