HIPOTIREOIDISMO
EM CÃES
Em praticamente todos os livros-texto sobre endocrinopatias, o hipotireoidismo canino aparece como a mais comum.
Sem dúvida o hipotireoidismo canino é a endocrinopatia mais diagnosticada e a mais tratada, entretanto a proporção de casos falso-positivos em tratamento é muito expressiva. A razão é simples; outras doenças, em geral sistêmicas, causam a supressão sérica da concentração dos hormônios tireoidianos - é a chamada SÍNDROME DO EUTIREOIDEO DOENTE. Nestes animais a origem da supressão dos hormônios tireoidianos não é o eixo hipófise-tireoide (e, portanto, não devem receber suplementação hormonal).
Quando desconfiar do hipotireoidismo canino?
Geralmente se recomenda os exames funcionais da tireoide quando o cão apresenta algumas manifestações clínicas sugestivas da doença.
O cão hipotireoideo se apresenta apático, sem energia; não brinca, não corre, não faz festas efusivas ao dono. Um cão não apático provavelmente não tem hipotireoidismo!
Outras manifestações são a bradicardia, termofilia (o animal procura fontes de calor constantemente), anemia normocítica normocrômica, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, aumento do peso, intolerância ao exercício, mixedema e alterações dermatológicas (importante aqui frisar que alopecia bilateral simétrica e cauda de rato não são exclusivos do hipotireoidismo, pois aparecem frequentemente em outras afecções, como no hiperadrenocortiismo). Pode também haver alterações no ECG.
Como diagnosticar corretamente o hipotireoidismo canino?
A mensuração dos hormônios tireoidianos não deve ser realizada enquanto o cão apresentar qualquer outra afecção concorrente. Diversas doenças dermatológicas (piodermite, dermatite alérgica à picada de ectoparasitos, dermatites alérgicas em geral), assim como afecções sistêmicas e outras endocrinopatias (Hiperadrenocorticismo e Diabetes Mellitus) podem reduzir os hormônios aos níveis do hipotireoidismo (este é um mecanismo de adaptação, visando diminuir o metabolismo enquanto o indivíduo encontrar-se doente). É importante ter em conta que diversos medicamentos reduzem os níveis dos hormônios tireoidianos.
Abaixo seguem as recomendações para a abordagem do diagnóstico do hipotireoidismo (adaptado de Nelson & Feldman, 2004):
1- A decisão de se partir para os testes de função tiroideia deve ser baseada nos dados da história pregressa, exame fisico e resultado das análises de rotina (hemograma, bioquímicas e urinálise)
2- Os testes iniciais devem ser:
- medição da concentração da tiroxina sérica total (tT4)
- medição da concentração de tiroxina livre (fT4) pelo metodo de diálise de equilibrio.
a. O tratamento está indicado se a concentração de tT4 ou fT4 estão baixas e a avaliação inicial do animal
sugerir fortemente o diagnóstico de hipotiroidismo.
b. O tratamento não está indicado se as concentrações séricas de tT4 ou de fT4 estiverem dentro dos parâmetros
normais e a avaliação inicial do animal não sugerir fortemente o diagnóstico de hipotiroidismo.
c. Estão indicados testes de diagnóstico adicionais (medição da concentração de TSH canina (cTSH),
determinação de presença de anticorpos contra a tiroglobulina ou contra os hormônios da tiróide) se as
concentrações séricas de T4 estiverem normais mas a avaliação inicial do cão sugerir fortemente o diagnóstico de hipotiroidismo ou se o veterinário tiver dúvidas se está realmente perante um caso de hipotiroidismo, mesmo depois da avaliação da história pregressa, exames de sangue de rotina e determinação da concentração sérica da tT4 ou fT4.
3- Os protocolos que utilizam uma combinação de dois testes comumente utilizam a medição da concentração sérica de tT4 ou fT4, medida pelo método de diálise de equilibrio, em conjugação com a medição da concentração sérica de cTSH.
a. O tratamento está indicado se a concentração de tT4 ou fT4 está baixa e a avaliação inicial do animal sugere
fortemente o diagnóstico de hipotiroidismo, seja qual for o resultado para a concentração de cTSH.
b. O tratamento não está indicado se todos os testes estão dentro dos parâmetros normais e a avaliação inicial do
animal não sugerir fortemente o diagnóstico de hipotiroidismo.
c. O tratamento não deve ser iniciado e os testes devem ser repetidos em 8 a 12 semanas se a concentração de
fT4 estiver normal mas a concentração sérica de cTSH estiver acima dos valores padrão.
d. A determinação da presença de anticorpos contra a tireoglobulina e contra os hormônios da tiróide é
indicada se a concentração de T4 estiver normal mas a concentração sérica de cTSH estiver acima dos valores
padrão, e a avaliação inicial do cão sugerir fortemente o diagnóstico de hipotiroidismo.
4- Há paineis de avaliação da tireóide que utilizam a medição da concentração sérica de tT4 ou fT4, medida pelo método de diálise de equilibrio, concentração sérica de cTSH e a determinação da presença de anticorpos contra a tireoglobulina e contra os hormônios da tiróide.
a. O tratamento é indicado se todos os parâmetros avaliados estiverem alterados e a avaliação inicial do animal
sugerir fortemente o diagnóstico de hipotirodismo, seja qual for o resultado encontrado para a presença de
anticorpos para a tiroglobulina e para os hormônios da tireóide.
b. O tratamento não é indicado se todos os testes de função estiverem normais e a avaliação inicial do animal não
sugerir fortemente o diagnóstico de hipotiroidismo, seja qual for o resultado da pesquisa de anticorpos para a
tireoglobulina e para os hormônios da tireóide. Um teste positivo para a presença de anticorpos contra os hormônios da tireóide sugere o diagnóstico de tireoidite linfocitária e o animal deve ser monitorado e fazer
testes de função tireoideia cada 3 a 6 meses.
c. Quando temos resultado discordantes nos testes de função tireoideia, a decisão de tratar o cão deve ser baseada na avaliação inicial do paciente, no índice de suspeita do clínico para hipotireoidismo, e uma avaliação crítica de cada resultado dos testes de função da tiróide. A medição da concentração sérica de fT4 pelo método de diálise de equilibrio é o teste mais preciso para avaliação da função da tiróide.
Referência:
Feldman, E.C., Nelson, R.W. Canine and Feline Endocrinology and Reproduction, Third Edition, 2004.